quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre o livro "O Monge e o Executivo Uma História sobre a Essência da LIDERANÇA" de JAMES C. HUNTER


Um livro que conta sobre forma de história, as "aventuras" do autor sobre Liderança, a verdadeira liderança.

Mandar, todos podem até achar que sabem, mas nem sempre quem manda consegue que se faça aquilo que se quer do jeito que deseja, a pessoa sua subordinada pode até fazer, mas não tão perfeitamente, ou com boa vontade, ou pior ainda, nem sempre acontece com eficácia.

As vezes se consegue muito pedindo por favor, mas quem tem um cargo de chefia acha que pedir não faz parte de suas funções... Será mesmo assim?

No livro "O Monge e o Executivo, Uma história sobre a Essência da Liderança" encontra-se algumas respostas, indagações, sugestoes e principalmente conclusões das pessoas que vivem o dia a dia da sua liderança, seja em familia, no grupo de amigos, e na vida profissional.

James começa contando no prefácio que em 2005 recebera um telefone contando sobre o sucesso de seu livro aqui no Brasil, mas o título por ele era desconhecido, pois ele apenas escrevera o livro The Servant, o que em portugues ao pé da letra significa:o servo, mas um livro falando de liderança, com esse título? Bem, no Brasil o titulo é esse: "O Monge e o Executivo Uma História sobre a Essência da LIDERANÇA.

Ele esteve no Brasil em 2007, fez várias palestras em São ´Luís, Blumenau, Rio de Janeiro, Gramado, Fortaleza, Florianópolis, São Paulo, Uberlândia e Macaé.

No livro ele fala muito do Semeão, "um homem muito correto e devoto, possuído pelo Espírito Santo" (Biblia sagrada capitulo de Lucas); bem, James sonha insistentemente com esse nome e que deve procurá-lo. Depois de alguns problemas na empresa, inclusive em casa, com relacionamento com os filhos e a esposa, colocando seu casamento em risco, resolveu ir para um mosteiro, claro que relutante, pois temia que não suportasse nem um dia, quanto mais uma semana como havia combinado com a esposa Rachel. Em fim, ele foi e lá conheceu vários ´"líderes", uma diretora de escola, um sargento do exército, um pastor e para sua surpresa, o Simeão. Em certa parte do livro, o grupo liderado por Simeão, debatem vários temas, usando o dicionário para significar algumas palavras como Perdão - desistir de ressentimento quando enganado. Simeão começa comentando: "Não é uma definição interessante?"


Não terminei ainda o livro, estou na página 103, quando começa a falar sobre honestidade- ser livre de engano- quem começa a falar sobre isso é a treinadora, que diz: "Eu pensei que honestidade era não dizer mentiras".

Termino esse comentário, parafraseando o proprio autor James Hunter: "Estou convencido de que o sucesso de O monge e o executivo demonstra claramente que os brasileiros estão querendo mais de seus líderes. O líder à modaantiga- que dita ordens e dz às pessoas: 'Quando quiser sua opinião, eu mesmo a darei!'- está rapidamente se tornando uma figura obsoleta, um dinossauro. Os líderes que nao estiverem atentos a isso, que não se dispuserem a mudar, amadurecer e se atualizar com as mudanças em curso no mundo todo, estarão se prejudicando e podem estar, igualmente, colocando suas organizações em risco. Gandhi afirmou certa vez: ' É preciso que você se torne a mudança que deseja ver no mundo.'

Ele termina dizendo que torce para que nós possamos nos empenhar e tomar para nós mesmos a responsabilidade de nos tornarmos um melhor líder servidor, começando agora mesmo. Alguém já disse, (não lembro quem) "Quem não vive para servir , não serve para viver."

Jesus também falava isso né? Quem quiser ser o primeiro, que seja o ultimo, quer ser importante, que sente-se em último lugar para ser reconhecido e chamado para a frente.

"O lider deve ter um interesse esepcial no sucesso daquele que lidera. De fato, um de nossos papéis como líderes é apoá-los e incentivá-los para que se tornem bem-sucedidos."(Hunter, James C. pag. 100, 2007)

A HISTORIA DO CARNAVAL.

Festa-síntese
Paralelamente, entre as elites surgiam os bailes à fantasia e de máscaras cujas sociedades organizadoras reuniam seus sócios nas respectivas sedes para que todos seguissem em cortejo até os locais das festas. Nascia assim uma nova forma de diversão em diferente sintonia com a diversidade cultural de grupos também nascentes, entre eles os de baianas, de crianças da elite ou só de negros e seus batuques. Enfim, uma saudável confusão de camadas sociais, de etnias e de ritmos, que de alguma forma dialogaram entre si e acabaram formando a festa que seria a síntese do Brasil.
Nos primórdios do século 20, uma espécie de divisão cultural foi estabelecida pela música. Os ditos grupos “selvagens”, como escreve Felipe Ferreira, se apresentavam ao som dos batuques de raízes negras. Enquanto os menos primitivos desfilavam tocando cantigas, modinhas e outros sons bem ao gosto da burguesia de então. É de 1899, portanto às portas do novo século, que data a clássica marcha rancho Ô abre alas, da ousada maestrina Chiquinha Gonzaga. Com sua música, ela foi uma das que escancararam o evidente diálogo entre as diferentes culturas ocorrido no Carnaval. Num trem histórico veloz, já no final da década de 1920, o carnaval carioca havia se entronizado como a grande festa da integração nacional. Não era mais um evento fechado dentro de um só formato, mas um caldeirão explosivo de diversas festas e ritmos populares. Era a festa-síntese do Brasil.
Em meio a esta ebulição, entre outros, se firmaram os nomes de Carmen Miranda – que, em 1930, incendiou os bailes e os blocos de rua com a marchinha Taí, de Joubert de Carvalho – e dos compositores Ary Barroso, João de Barro (o Braguinha), Lamartino Babo, Noel Rosa e do hoje esquecido André filho, autor de Cidade Maravilhosa, a música que há décadas é sinônimo de Carnaval e do Rio de Janeiro.
Brasil, esquentai vossos pandeiros
Em 1932, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro abriu suas portas para o primeiro baile carnavalesco oficial da cidade, reunindo a nata da elite nacional. O ponto alto do evento acontecia com os desfiles de fantasias, iniciados em 1936. A tradição se manteve por muitos anos, lançando os nomes históricos de Clovis Bornay, Evandro de Castro Lima, Marlene Paiva e Wilza Carla, que, literalmente, brilharam em fantasias caríssimas. Eles eram o chantili da festa que consumia fortunas na organização e nas decorações assinadas por gente como Roberto Burle Marx, Arlindo Rodrigues e Nilton Sá.
Enquanto os endinheirados se divertiam em bailes como o descrito acima, o povo começava a arquitetar a formação do que hoje é a usina propulsora do profissionalizado carnaval carioca: as escolas de samba. Felipe Ferreira conta uma versão perpetrada pelo compositor e cantor fluminense Ismael Silva: a de que o termo foi inventado por ele próprio. Silva teria se reunido com alguns amigos do morro para organizar uma agremiação chamada Deixa Falar. A expressão “escola de samba” teria vindo à tona porque o compositor se lembrou de uma escola normal, situada nas proximidades. “Se os mestres se reúnem numa escola para ensinar os alunos, nossos mestres do samba também deveriam se reunir numa escola....de samba”, sentenciou. Tal encontro aconteceu no dia 12 de agosto de 1928, segundo os pesquisadores a data de fundação da primeira escola de samba.
Mas só em 7 de fevereiro de 1932 foi registrado o primeiro desfile de uma escola. No ano seguinte, 35 grupos de samba voltaram a desfilar, já marcando o início de um evento que cresceu e se industrializou. A ocasião é lembrada por dois fatos: pela performance da Unidos da Tijuca, que cantou aquele que é considerado o primeiro samba-enredo da história do Carnaval, e pela estréia do Rei Momo (provavelmente um boneco) nas ruas do Rio de Janeiro. Passados os anos, a intenção de tornar os desfiles uma indústria ficou evidente no investimento de quantias maciças de dinheiro; na competição entre as escolas para saber quem traz mais novidades tecnológicas e arrebanha o maior número de celebridades; e até no interesse de artistas plásticos de vanguarda, como Hélio Oiticica – que fez trabalhos baseados em alguns elementos da Mangueira.
A inauguração do Sambódromo carioca, em 1984, veio também marcar a faceta contemporânea da folia. É quando entram em cena os novos carnavalescos, que ganharam fama nacional. Entre eles, Rosa Magalhães – a maior campeão dos 20 primeiros anos da Passarela do Samba – e Joãosinho Trinta, que, entre outras estripulias, realizou o memorável enredo Ratos e urubus larguem a minha fantasia, colocando na avenida uma impressionante ala de “mendigos” e o polêmico “Cristo Redentor mendigo”.
Não é demais repetir a importância que o carnaval carioca trouxe para o turismo brasileiro. Seu reinado, no entanto, espalhou súditos por vários cantos do País, a partir da década de 1970, quando o evento assume-se multifacetado, espelhando a pluralidade do Brasil. Foi assim com a folia de Salvador, de Recife, de Olinda e até de São Paulo. Só pra contrariar a máxima do poeta de que a capital paulista é “o túmulo do samba”, pois as escolas da metrópole têm mostrado cada vez mais profissionalismo, organização, criatividade e luxo a milímetros de similaridade com as agremiações cariocas. Vai-Vai, Rosas de Ouro, Camisa Verde e Branco e Gaviões da Fiel são alguns bons exemplos. Na verdade, não importa o lugar em que o Carnaval aconteça. O que conta é o empenho de todos em difundir os versos sempre atuais de Assis Valente, eternizados na canção Brasil pandeiro: “Brasil, esquentai vossos pandeiros/Iluminai os terreiros que nós queremos sambar”.
FONTE:http://carnaval2009.ig.com.br/carnaval/

Tudo Sobre o Carnaval

Apoenan Rodrigues
Conta uma lenda medieval, que, num país com o divertido nome de Cocanha, a felicidade plena poderia ser alcançada com as mãos. Vinho jorrava em fontes, guloseimas de variados tipos pendiam das árvores, aves assadas voavam baixo à espera de serem devoradas e deliciosos bolinhos caíam lentamente do céu. Como se não bastassem, iguarias eram distribuídas gratuitamente nas lojas e, sonho dos sonhos, a velhice não era um fantasma assustador. Afinal, todo mundo que se tornasse cinqüentão instantaneamente voltava a ter dez anos de idade. Para o povo, esta era a imagem carnavalesca da alegria, da fartura, do prazer sem limites como forma de compensar os 40 dias de rígida restrição culinária, abstinência sexual e autopunição, que se seguiriam durante o período que a Igreja convencionou chamar de quaresma, a partir do século 11.
Na verdade, para compreender melhor a origem do costume devemos apertar a tecla backward da História. Em 604, o papa Gregório I instituiu que todos os seguidores do cristianismo deveriam reservar cerca de 40 dias por ano para se dedicar somente às questões religiosas, deixando de lado os abusos mundanos. Com o tempo, o hábito foi se arraigando até que, em 1.091, representantes do alto clero acharam por bem fixar uma data oficial para o começo da quaresma. O período teria início no dia que passou a ser chamado de quarta-feira de cinzas – quando os fiéis tinham sua testa marcada por uma cruz feita com cinzas de uma fogueira – e terminaria no domingo de Páscoa.
É evidente que a esperteza popular logo sacou que, para enfrentar e contrabalançar as agruras da abstinência, nada melhor do que dedicar, com igual fervor, certo número de dias a toda forma de excessos. Como a Igreja também impunha jejum à carne, a fase que antecedia a quaresma ganhou a alcunha de “adeus à carne” ou “carnevale” para os italianos, de acordo com a descrição do antropólogo e pesquisador carioca Felipe Ferreira em sua alentada publicação O livro de ouro do carnaval brasileiro. Foi assim que o Carnaval – ainda segundo o autor – se estabeleceu não como um tipo único de festejo, seja ele qual for, e sim como um período do ano. Ou seja, o marco histórico da existência do Carnaval, paradoxalmente, foi determinado pela Igreja.
Entrando na máquina do tempo, Ferreira ainda relata que as primeiras manifestações festivas revestidas de transbordamentos remontam às civilizações mesopotâmica e greco-romana. Há pesquisadores adeptos da idéia de que estes antigos festejos já eram uma espécie de Carnaval. Mas é na adolescência da era cristã, frisa Ferreira, que surgem as festas populares com espírito mais carnavalesco. E é somente com o correr dos séculos e o avanço cultural que se torna possível distinguir carnavalização (festa exagerada em qualquer época do ano) de Carnaval (grande concentração de brincadeiras num período específico).
Esplendor em Veneza
Passada a efervescência artística e de descobertas do Renascimento, grandes festas oficiais faziam a alegria das elites nos dias de Carnaval. Veneza, que sempre pareceu viver como se não houvesse amanhã, era um destes centros difusores da folia, principalmente a partir do século 17, quando um grande número de visitantes lotava a cidade para admirar as luxuosas fantasias usadas pela classe dominante. Até hoje seus habitantes preservam a tradição. Claro que sem o esplendor dos velhos tempos, mas com quase a mesma intensidade. Para um brasileiro acostumado às explosões de euforia da festa do verão, é no mínimo curioso constatar a determinação com que as pessoas assumem os personagens das fantasias e das máscaras, passando horas paradas na mesma posição, como se fossem estátuas vivas. Não dessas à espreita de alguma moedinha. Homens e mulheres fantasiados permanecem estáticos pelo simples barato de divertir se divertindo.
Nos tempos de Casanova, a diversão dos mais abastados não tinha tanta inocência. Era revestida de maldade estudada. Protegidos pela lei, os mascarados venezianos desfrutavam do anonimato fazendo fofocas e revelações íntimas de seus desafetos em plena Praça São Marcos, para onde todos eles iam antes de lotarem os históricos bailes realizados nos palácios. Longe do povão, escondidos pelas fantasias e incentivados pelos ambientes de libertinagem sem censura, a nobreza veneziana inaugurou um evento totalmente desvinculado da festança popular das ruas. Estes bailes suntuosos acabaram influenciando as principais cortes européias a organizarem algo semelhante. É bom frisar que, em muitas cidades, as classes de baixa renda eram apenas espectadoras dos principais festejos de Carnaval. Embora alguns elementos populares tenham sido assimilados pelas brincadeiras dos ricos. Basta lembrar do trio Pierrô, Arlequim e Colombina, migrado da Commedia Dell’Arte. Além de serem presença constante na folia italiana, as imagens dos três cruzaram o Atlântico e, por muito tempo, reinaram no carnaval carioca.
Felipe Ferreira lembra que o escritor alemão Goethe, quando esteve em Roma em 1790, registrou num diário todas as suas impressões do período carnavalesco. Dizia o alemão que na Cidade Eterna o Carnaval “não é uma festa que se dá ao povo, mas que o povo dá a si mesmo”. Em uma frase, o escritor resumiu o clima que rolava no milenar centro histórico. Segundo ele, a principal característica da festa romana eram as corridas de cavalo ao fim de cada dia de festejo. Antes do evento, o simples desfile dos garbosos animais cobertos por um pano branco, enfeitado de fitas coloridas, provocava grande aglomeração de pessoas que aproveitavam o burburinho para guerrear entre si lançando bolinhas de gesso ou confeitos de açúcar, os confetti. Daí a origem do que seria o confete, aqueles pequenos círculos de papel colorido. Um ano depois, em 1893, surgiria nas ruas de Paris a não menos famosa serpentina, seguida, no Brasil, pelo seu futuro rival em consumo, o lança-perfume, uma invenção dos cariocas.
Foi em Paris, aliás, cidade que no século 19 era tida como o principal centro de cultura do mundo, que o Carnaval iria tomar a forma da festa como hoje a conhecemos. Elegantes bailes à fantasia e de máscaras borbulhavam nos locais mais exclusivos em manifestações esplendorosas da burguesia composta de banqueiros, financistas e comerciantes. A ocasião era tão propícia para a ostentação, que o modelo foi imediatamente copiado pelos endinheirados de vários cantos, inclusive do Brasil. A intenção era que, cada vez mais, o Carnaval fosse uma festa das elites. Mas a divertida esculhambação, naturalmente proposta pelo povo, irá se manter. Mesmo com todas as tentativas dos mais ricos de querer abafar os folguedos por considerá-los bárbaros e inadequados. O resultado desta disputa, no entanto, levará Paris a perder o trono da folia mundial, cedido para a também francesa Nice. No Rio de Janeiro colonial, como a burguesia não guardava o mesmo poder de fogo – apesar de ter importado o modelo francês – a algazarra nascida nas ruas irá brotar com mais intensidade, como lembra o antropólogo Ferreira. Em ambos os casos, contudo, vale lembrar que a simbiose entre as diferentes maneiras de brincar o Carnaval produzirá novos formatos de festa.
Nasce a folia tropical
Divertido para quem praticava e brutal para suas vítimas, o entrudo se enraíza como a manifestação carnavalesca brasileira mais antiga e duradoura. De acordo com Leonardo Dantas Silva, em sua introdução à Antologia do Carnaval do Recife, já em 1553 um texto fazia referência ao entrudo em terras tupiniquins. Entrudo, que na língua dos patrícios significa sujeito ridículo ou muito gordo, foi trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses. Vem de uma tradição local, que reunia em passeio pelas ruas de pequenas cidades dois enormes bonecos de palha, um nomeado João e outro Dona Quaresma. Dependendo da região, eles ganhavam novos apelidos. Mas geralmente eram chamados de entrudos. Por fim, o nome genérico dos bonecos acabou se mesclando ao da própria brincadeira, já que entrudos é como até hoje são denominadas as festas do Carnaval lusitano.
Pois bem, os desfiles daqueles bonecos gigantes eram acompanhados por uma pequena multidão que entoava versos obscenos como forma de desabafo político. Acontece que a brincadeira muitas vezes desandava para a agressividade, com xingamentos pesados e lançamento de objetos sobre os bonecos. Em Lisboa, a coisa era pior. Nos dias de entrudo, pobre de quem saísse às ruas, pois a diversão era mirar as pessoas e acertá-las com ovos, farinha e até sacos de areia e moringas. Não raro um infeliz também quebrava as costelas ao estatelar-se no chão depois de escorregar numa escada besuntada pelo sadismo de algum engraçadinho.
No entrudo do Rio de Janeiro e das principais cidades brasileiras, a intenção dos foliões era molhar o desavisado com os chamados limões-de-cheiro. Na verdade, bolas de cera esverdeadas, um pouco maiores do que as de tênis, cheias de água perfumada. Também se usavam seringas enormes, feitas de folhas-de-flandres para, não raro, lançarem água suja nas pessoas. Depois de molhada, a vítima ainda ganhava por cima da roupa uma densa camada de pós variados que certamente a obrigariam a passar mais horas dentro de uma tina d’água do que todo o tempo normalmente dedicado aos banhos eventuais.
Em terras tropicais, havia dois tipos de entrudo, o familiar e o das ruas. Se comparado ao das ruas, o familiar era uma reunião no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Tanto que quase ninguém das classes mais altas ousava sair nestes dias. Gente do povo e escravos eram os principais protagonistas desta guerra que permitia qualquer tipo de munição: águas fétidas, restos de comida, estuque e tudo o que pudesse humilhar ou machucar. Como tinha certa hierarquia entre o populacho, alguns escravos valiam-se das funções mais importantes para exigir o respeito de outros menos favorecidos, como os temidos “tigres”. Estes eram encarregados de executar os serviços, digamos, mais íntimos dos seus senhores. Dá até para imaginar a cena se alguém esbarrasse nestes homens que transportavam as fezes e urinas dos sinhozinhos para serem lançadas ao mar.
O entrudo sofreu inúmeras restrições por parte do governo, mas mesmo assim a brincadeira reinou por quase 300 anos até a chegada da Família Real que ancorou no Rio de Janeiro trazendo hábitos mais refinados, como a organização de bailes à fantasia à maneira francesa. Também vieram os passeios de máscaras, e, claro, manifestações indiscutivelmente populares como os blocos, os cordões e os ranchos. Naturalmente, aos poucos algumas brincadeiras foram se destacando das outras. Uma delas é o histórico Zé Pereira. Há controvérsias sobre o seu surgimento. Cada pesquisador defende seu quinhão. Hiram Araújo, por exemplo, escreve em seu livro Carnaval: seis milênios de história que tudo começou quando um tal de José Nogueira saiu pelas ruas cariocas tocando um bumbo nos dias de Carnaval. Outros afirmam que o hábito teria sido importado de Portugal, onde grupos de rapazes das aldeias desfilavam tocando bumbos nos dias de folia. Segundo Felipe Ferreira, nenhuma das versões foi comprovada. O certo é que a brincadeira ganhou fôlego e Zé Pereira tornou-se a definição dos bandos de homens com roupas maltrapilhas, que passavam pelas ruas tocando tambores e instrumentos de sopro em altos decibéis, sempre arrastando uma multidão de foliões

Escola campeã do carnaval carioca será conhecida hoje-Rio de Janeiro 25/02 - 11:16

Escola campeã do carnaval carioca será conhecida hoje Apuração inicia a partir das 15h, segundo informações da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro Da redação
A partir das 15h desta quarta-feira, o nervosismo vai tomar conta dos integrantes das escolas de samba e dos fãs do carnaval do Rio de Janeiro. Começa nesse horário, na Praça da Apoteose, a apuração das notas dos desfiles do Grupo Especial do Carnaval 2009.
Os portões para a arquibancada do Sambódromo, na Marquês de Sapucaí, abrirão às 14h, segundo informações da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). A entrada é gratuita. O iG vai transmitir, por meio de um painel, a atribuição das notas.
Dê sua nota às escolas
Confira as fotos do carnaval do Rio
Os desfiles do Grupo Especial foram realizados no domingo, 22, e segunda-feira, 23. Na primeira noite, Beija-Flor e Vila Isabel impressionaram pela qualidade dos desfiles e entraram na frente pela disputa do título. A luta pelo posto de elite do carnaval carioca ficou mais acirrada a partir da segunda noite. De seis escolas, três fizeram desfiles empolgantes e tecnicamente bem avaliados: Salgueiro, Imperatriz e Portela.
Neste ano, elas serão avaliadas pelos seguintes quesitos: Alegorias e Adereços, Bateria, Comissão de Frente, Conjunto, Enredo, Evolução, Fantasias, Harmonia, Mestre-sala e porta-bandeira e Samba-enredo.
Em 2008, a Beija-Flor de Nilópolis foi bicampeã com o enredo “Macapaba Equinócio Solar Viagens Fantásticas ao Meio do Mundo”, que falava sobre a região de Macapá, famosa por ser cortada pela linha do Equador, que separa os hemisférios Norte e Sul.
O desfile das campeãs de 2009 do Grupo Especial está marcado para o próximo sábado, 28, na Marquês de Sapucaí.

uma entrevista com Dermeval Saviani

ENTREVISTA
Professor Demerval Saviani analisa o PDE

Em entrevista publicada no Informativo “Expressão Sindical” do Simpro/Guarulhos, o professor Demerval Saviani fala sobre o Plano Nacional da Educação, lançado pelo MEC em março de 2007. O professor Saviani é graduado em Filosofia (1966) e doutor em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1971). Em 1986, obteve o título de livre-docente, e, em 1991, foi aprovado no Concurso de Professor Titular de História da Educação da UNICAMP. Professor Emérito da UNICAMP e Coordenador Geral do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR). Seus principais temas de pesquisa são: educação brasileira, legislação do ensino e política educacional, história da educação, história da educação brasileira, historiografia e educação e história da escola pública.

No livro Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações o Senhor define o trabalho educativo como o “ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. A chamada “globalização” tem impactado os valores que tendiam a orientar os mundos do trabalho, a sociedade, as noções de humano / humanidade e, claro, a
formação escolar e as equipes pedagógicas. Quais as possibilidades objetivas que as escolas têm, hoje, de “produzir humanidade”? Não seria tarefa demasiada para a escola, já que ela é parte de uma estrutura que, para sustentar-se, não precisa “produzir humanidade”?

Dermeval Saviani: A mencionada definição do trabalho educativo tem caráter geral e se reporta ao significado da educação ao longo da história da humanidade nos diferentes tipos de sociedade. A escola, enquanto integrante do processo da educação, participa, na sua especificidade, do conteúdo expresso naquela definição. É preciso observar, porém, que, de acordo com os diferentes modos de produção da existência humana, configuram-se determinados tipos de sociedade que atribuem à educação e à escola uma significação determinada.
Com a divisão da sociedade em classes sob o capitalismo, a educação recebeu uma determinação particular marcada pelo conflito entre as classes fundamentais. Nessas condições, aquele significado geral da educação expresso na definição citada tende a ser negado na mesma proporção em que esse tipo de sociedade, em lugar de concorrer para a promoção da humanidade em seu conjunto, submete a maioria dos seres humanos a um processo de dominação e exploração pela minoria que detém a propriedade dos meios de produção e, assim, controla a sociedade em suas várias dimensões – econômica, social, política, cultural e pedagógica. Daí as dificuldades da escola em cumprir seu papel educativo; daí também a necessidade de reafirmar o significado da educação, buscando integrá-la no processo mais amplo de transformação da sociedade em direção à abolição da apropriação privada, o que permitirá colocar as conquistas da humanidade em benefício de todos os seus membros.
O Plano de Desenvolvimento da Educação, recentemente divulgado pelo governo federal, estabelece uma série de projetos, intervenções e intenções. Como o Senhor avalia suas linhas gerais e intencionalidades?
Fonte: Expressão Sindical – Sinpro/Guarulhos
Publicado em 17/09/07

uma entrevista com Dermeval Saviani

DS: O PDE pode ser visto como uma tentativa do governo de responder aos clamores da sociedade no que se refere aos graves problemas de qualidade da escola básica pública. Iniciativa válida, já que procura centrar o foco na qualidade construindo instrumentos de aferição do nível de eficácia do ensino ministrado (caso do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-IDEB) e se voltar, precipuamente, para as administrações municipais em que se detecta ponto de estrangulamento do ensino fundamental. Mas o Plano apresenta deficiências graves nas questões centrais do financiamento e do magistério. A base de sustentação financeira do Plano é o FUNDEB, que, entretanto, não significou aumento dos recursos; ao contrário, se o número de estudantes atendidos pelo Fundo aumentou de 30 milhões para 47 milhões (56,6%), o seu montante passou de R$ 35,2 bilhões para R$ 48 bilhões, apenas 36,3%. A complementação da União também não implicou acréscimo. Antes, ela deveria entrar com pelo menos 30% de seu orçamento; ora, o orçamento do MEC para 2007, após o corte de R$ 610 milhões imposto pela Fazenda, é de R$ 9,130 bilhões, logo, 30% corresponderiam a R$ 2,739 bilhões. No entanto, a complementação prevista da União para 2007 se limita a 2 Bilhões. Quanto ao magistério, é consenso o reconhecimento de dois requisitos fundamentais: condições de trabalho e salário/formação. O PDE cuidou da questão salarial definindo um piso de R$ 850,00, valor corrigido pela inflação sobre um salário de R$ 300,00 proposto em 1994. Esse valor correspondia a 4,28 salários mínimos; em relação ao salário mínimo atual, representa 2,23 vezes. Além disso, prevê-se sua implantação gradativa, chegando apenas em 2010 aos R$ 850,00. Significa importante aumento para as regiões em que os salários se encontram muito depreciados, mas é preciso ter presente que tais salários se referem, em geral, a jornadas de 20 horas semanais, enquanto o projeto do novo piso supõe uma jornada de 40 horas. Com relação às condições de trabalho, a questão principal, não contemplada pelo PDE, diz respeito à carreira profissional dos professores. Dever-se-ia propor a jornada integral em um único estabelecimento de ensino, para fixar os professores nas escolas, com presença diária e identidade com elas. E ainda destinar 50% da jornada para as aulas e o restante para permitir a participação do professor na gestão da escola, na elaboração do projeto pedagógico, nas reuniões de colegiado, no atendimento à comunidade e, principalmente, na orientação dos estudos do alunado em atividades de reforço. Para a formação docente, o PDE recorre à Universidade Aberta do Brasil (UAB), oferecendo cursos a distância de formação inicial e continuada dos professores. Não nego que o EAD possa ser utilizado com proveito no enriquecimento dos cursos de formação de professores. Tomá-lo, entretanto, como a base desses cursos não deixa de ser problemático, pois arrisca converter-se num mecanismo de certificação antes que de qualificação efetiva. Esta exige cursos regulares, de longa duração, ministrados em instituições sólidas e organizados preferencialmente na forma de universidades.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o Senhor ressalta que o PDE está embasado numa lógica de mercado contemplada, por exemplo, na “pedagogia das competências”. Os PCNs já não acenavam nessa direção?

DS: Sim. Embora na gestão atual o MEC esteja procurando atacar questões básicas relativas à qualidade do ensino que foram transcursadas pela administração anterior, a lógica de base não foi alterada, mesmo porque ela decorre de uma política econômica que o governo Lula continuou. Tanto assim que o PDE foi proposto em sintonia com o grupo de empresários que lançou, em setembro de 2006, o Compromisso Todos pela Educação. Portanto, ainda que os PCNs não integrem o arsenal dos recursos de política educativa do atual ministro, a lógica subjacente a eles é a mesma que sustenta o PDE.

Pesquisa coordenada pelo Sr. no início da década de 80 identificou quatro concepções filosóficas orientadoras das práticas educacionais no Brasil: a) humanista tradicional; b)humanista moderna; c) analítica e d) dialética. Como vê, hoje, a presença e o embate entre essas concepções no planejamento educacional e na prática escolar?

DS: Abordo essa questão em meu novo livro História das idéias pedagógicas no Brasil, que será lançado em setembro. Na Conclusão, retomo, em três atos, o drama do professor descrito no livro. Primeiro ato: o professor tinha a cabeça escolanovista, mas era obrigado a atuar nas condições tradicionais; segundo ato: nessas condições sobrevém a ele a tendência tecnicista, instando-o a ser eficiente e produtivo; terceiro ato: ao mesmo tempo, a visão crítico-reprodutivista veio mostrar que, na crença de estar formando indivíduos autônomos, o professor estava reproduzindo a ordem vigente e, assim, contribuindo para reforçar os mecanismos de exploração. Como as pedagogias contra-hegemônicas formuladas nos anos 80 não tiveram força para reverter esse quadro, nos 90 o professor entra no quarto e atual ato de seu drama: ainda se pede a ele eficiência e produtividade, mas agora sem seguir um planejamento rígido; não é preciso pautar sua ação por objetivos pre-definidos e regras preestabelecidas. Como ocorre com os trabalhadores de modo geral, também os professores são instados a se aperfeiçoarem continuamente, num eterno processo de aprender a aprender. Acena-se, então, com cursos de atualização ou reciclagem referidos a aspectos fragmentários da atividade docente, todos eles aludindo a questões práticas do cotidiano. O mercado e seus porta-vozes governamentais parecem querer um professor ágil e flexível que, a partir de uma formação inicial ligeira, de curta duração e a baixo custo, prosseguiria sua qualificação no exercício da docência, lançando mão da reflexão sobre a própria prática, eventualmente apoiada em cursos rápidos, ditos também “oficinas”. Estas, recorrendo aos meios informáticos, transmitiriam em doses homeopáticas as habilidades que o tornariam competente nas pedagogias da “inclusão excludente”, do “aprender a aprender” e da “qualidade total”. É a concepção produtivista que, hegemônica desde a década de 70, é agora refuncionalizada numa espécie de neoprodutivismo.

Há pelo menos três décadas, a oferta de educação superior tem sido coberta, majoritariamente, pelas instituições privadas, tornando-as as maiores contratantes de professores. De que forma essa situação reflete a queda na qualidade do ensino/da formação, a ampliação de vínculos acríticos com os mercados, a destituição do lugar acadêmico da extensão e da pesquisa e a precarização do trabalho docente?

DS: De fato, esses aspectos estão interligados. Como a maioria das instituições privadas de ensino superior se guia pelos mecanismos de mercado, não contemplando institucionalmente a pesquisa, o ensino ministrado resulta numa formação precária. E como a maioria dos professores que lecionam na educação básica pública é formada nessas instituições, isso se reflete na baixa qualidade desse nível de ensino, dando origem a um círculo vicioso que não poderá ser revertido pelas políticas paliativas até agora postas em prática.

O ensino técnico e tecnológico vem sendo considerado um tipo de formação, respectivamente, média e superior mais adequado às expectativas dos jovens de ingresso no mercado de trabalho. Tais opções representariam a perda de prestígio do ensino de natureza propedêutica, teórica e humanista, em favor do ensino instrumental e prático?

DS: Num contexto como o atual, no qual o indivíduo não pode esperar, das oportunidades escolares, acesso ao emprego, mas apenas a conquista do status de empregabilidade, a educação passa a ser entendida como um investimento em capital humano individual que habilita as pessoas para a competição pelos empregos disponíveis. O acesso a diferentes graus de escolaridade amplia as condições de empregabilidade do indivíduo, mas não lhe garante emprego, pelo simples fato de que, na forma atual do desenvolvimento capitalista, não há emprego para todos: a economia pode crescer convivendo com altas taxas de desemprego e com grandes contingentes populacionais excluídos do processo. É o crescimento excludente, em lugar do desenvolvimento inclusivo que se buscava atingir no período keynesiano. A teoria do capital humano foi refuncionalizada, com isso alimentando a busca de produtividade na educação. Nessa situação, acaba por prevalecer um clima pragmático, individualista e imediatista, sendo compreensível a expectativa favorável a um ensino que estabeleça uma ponte direta e imediata com a ocupação de determinados postos no mercado de trabalho. Mas, assim procedendo, não será possível formar indivíduos autônomos e cidadãos conscientes e, portanto, profissionais socialmente competentes como se apregoa tanto nos discursos políticos quanto nas justificativas das medidas de política educacional e nos documentos legais. Contra essa tendência, parece-me necessário insistir na idéia gramsciana de uma escola unitária que promova, até o fim do ensino médio, uma formação geral de tipo “desinteressado” que culminaria na escola criativa, entendida como o momento em que o educando atinge a autonomia.

uma entrevista com Dermeval Saviani

É improvável realizar mudanças na educação pública brasileira sem o apoio dos professores. No entanto, as sucessivas investidas contra a escola e contra a dignidade social e profissional dos docentes parecem ter esvaziado as possibilidades de protagonismo do professorado, especialmente na formulação de políticas para a educação. De outro lado, a educação a distância (contemplada no PDE) vem conquistando terreno e embasando iniciativas que põem o professor na condição de tutor, monitor ou palestrante. Como o Sr. vê o futuro da profissão?

DS: Inegavelmente, esse é o ponto nodal. Sem encarar frontalmente o problema do magistério nenhuma reforma educacional terá chances de êxito. Trata-se de criar a carreira do magistério da educação básica tendo como itens básicos um piso salarial substantivamente elevado em relação ao atual e jornada em tempo integral numa única escola, com 50% do tempo dedicado à docência e a outra metade distribuída pelas demais atividades. Quanto à formação, deve ser provida por meio de cursos presenciais regulares e de longa duração, ministrados por universidades que encarem a pesquisa sobre o magistério e a formação docente como prioridade. Os dois aspectos, carreira e formação, estão interligados. Com efeito, salários dignos e condições de trabalho satisfatórias definem um status social elevado para o magistério. Transformada a docência numa profissão socialmente atraente em razão dessas melhorias, para ela convergirão muitos jovens dispostos a investir seus recursos, tempo e energias numa alta qualificação obtida em graduações de longa duração e em cursos de pós-graduação. Não é isso o que ocorre hoje, de certo modo, com a medicina?

Pautemos os sindicatos docentes: que estratégias de luta e que bandeiras poderiam ser suficientemente mobilizadoras para que o sindicato possa recuperar presença e importância no interior das lutas sociais, ou, em outras palavras, sua condição de intelectual coletivo?

DS: Penso que uma estratégia de luta possível para os sindicatos deveria apoiar-se no discurso que está na boca da maioria das pessoas, com destaque para empresários e políticos, que define a educação como a prioridade das prioridades. Na conclusão de meu livro Da nova LDB ao FUNDEB assim me refiro a essa estratégia: consideremos o reconhecimento consensual de que vivemos na sociedade do conhecimento e de que nesse tipo de sociedade a educação formal é a chave sem a qual todas as portas tendem a se fechar; consideremos que sem essa chave os indivíduos ficam excluídos e as organizações e as empresas perdem em produtividade e competitividade. Assumamos, pois, esse consenso, elegendo a educação como o fator estratégico de desenvolvimento do país. Não se trata de a educação competir por recursos com outras áreas; ao contrário, ela será a via escolhida para atacar de frente, e simultaneamente, todos esses problemas. Se ampliarmos o número de escolas e as tornarmos capazes de absorver toda a população em idade escolar nos vários níveis e modalidades de ensino, se povoarmos essas escolas com todos os profissionais de que necessitam, em especial com professores em tempo integral e bem remunerados, atacaremos diretamente o desemprego, pois serão criados milhões de empregos. Atacaremos o problema da segurança, ao retirar das ruas e do assédio do tráfico de drogas muitas crianças e jovens. E, principalmente, atacaremos todos os demais problemas, já que estaremos promovendo o desenvolvimento econômico, uma vez que esses milhões de pessoas com bons salários irão consumir e, com isso, ativar o comércio, que por sua vez levará o setor produtivo a produzir e contratar mais. Isso provocará o crescimento exponencial da arrecadação de impostos com os quais o Estado poderá resolver o problema da infra-estrutura e, claro, o da qualidade da educação. Com um quadro de professores altamente qualificado formaremos os tão decantados cidadãos conscientes, críticos, criativos e tecnicamente competentes para ocupar os postos do hoje fervilhante mercado de trabalho. Estaria criado o desejado círculo virtuoso do desenvolvimento. Creio que em torno dessa bandeira os sindicatos poderiam realizar sucessivas manifestações, organizar grupos de pressão junto ao Congresso, aos governos e às empresas, inclusive as do ensino, acionar os vários veículos de comunicação e muitas outras iniciativas. Está lançada a sugestão.

No caso da formação de professores no Brasil, tudo leva a crer que essa tarefa tem de ser urgentemente requalificada, para que a escola básica possa apresentar melhores resultados – afinal, o professor ensina mal porque foi mal formado. A quem caberia essa iniciativa e como o Sr. vê as atuais perspectivas de políticas voltadas a essa questão? Mais: tendo em vista que apenas 3% dos professores que atuam na educação básica são formados nas universidades públicas, não seria o caso de chamá-las à responsabilidade?

DS: O ministro Haddad informou que está criando na CAPES uma comissão permanente para traçar as linhas da formação de professores, em nível superior, para toda a educação básica. Dependendo dos recursos investidos, da composição dessa comissão e das diretrizes formuladas, essa iniciativa pode dar resultados positivos. A proposta que eu havia feito em 1997, para o Plano Nacional de Educação, previa a duplicação imediata dos atuais 4%, aproximadamente, do PIB investidos em educação para 8%. Isso valeria para municípios, estados e União. No caso da União, sugeri que fosse utilizado o montante correspondente a 4% para manter os atuais compromissos do MEC com universidades e escolas técnicas federais, dividindo-se a parcela adicional em duas partes iguais: a primeira se destinaria à educação básica, para que a União cumprisse a função de apoio técnico e financeiro, suprindo as deficiências locais; a segunda constituiria um fundo para financiar projetos das universidades na realização das metas definidas no PNE. Penso que o primeiro e mais prioritário projeto a ser bancado com esses recursos seria o de formação do magistério. Eis o caminho para chamar à responsabilidade as universidades públicas, engajando-as fortemente no processo de formação de professores para a educação básica de todo o país.

O Sr. concorda com a avaliação de que as reformas da educação superior implantadas a partir dos anos 90 tinham o objetivo de estabelecer um setor privado de massas para atendimento de um ensino de corte mais técnico e profissionalizante e, nesse passo, preservar a atuação das universidades públicas na pesquisa e na formação das elites?

DS: Sem dúvida. Explicitei isso no livro A nova lei da educação quando me referi à política de ensino superior do governo FHC, marcada pelo binômio “universidades de ensino” versus “universidade de pesquisa”. Pretendia-se implantar essa orientação mediante emenda constitucional que removesse a exigência de indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão. Como isso não foi possível, utilizou-se o subterfúgio da mudança de terminologia e foram criados por decreto os centros universitários. Estes se dedicariam a um bom ensino, estariam dispensados de pesquisa, mas gozariam das prerrogativas universitárias, entre elas a autonomia. E o próprio mercado já encontrou uma forma de, se não convencer, ao menos confundir a população de que se tratava, de fato, de universidades: o prefixo “Uni” compondo as siglas identificadoras dos centros universitários projeta esse entendimento.

REFLEXÃO



A paciência não é um vitral gracioso para as suas horas de lazer. É amparo destinado aos obstáculos.

A serenidade não é jardim para os seus dias dourados.É suprimento de paz para as decepções de seu caminho.

A calma não é harmonioso violino para as suas conversações agradáveis.É valor substancial para os seus entendimentos difíceis.

A tolerância não é saboroso vinho para os seus minutos de camaradagem.É porta valiosa para que você demonstre boa vontade,ante os companheiros menos evoluídos.

A boa cooperação não é processo fácil de receber concurso alheio.É o meio de você ajudar ao companheiro que necessita.

A confiança não é um néctar para as suas noites de prata.É refugio certo para as ocasiões de tormenta.

O otimismo não constitui poltrona preguiçosa para os seus crepúsculos de anil.É manancial de forças para os seus dias de luta.

A resistência não é adorno verbalista.É sustento de sua fé.

A esperança não é genuflexório de simples contemplação.É energia para as realizações elevadas que competem ao seu espírito.

A virtude não é flor ornamental. É fruto abençoado do esforço próprio que você deve usare engrandecer no momento oportuno.


DE: André LuizTexto autorizado pelo Site A Jornada