sábado, 6 de outubro de 2012

vidas, vidas, vidas


Rio de janeiro, 06 de outubro de 2012.
Vidas, vidas, vidas
Acabei de assistir um filme que me emocionou muito. “O estranho caso de Benjamin Buton”. Conta a historia da vida de uma pessoa ao contrário, ou seja, ele nasceu velho, a infância foi a velhice, a adolescência foi a vida adulta de 40 e poucos anos e a velhice a fase adulta quando realmente tinha 49 anos, a sua aparência era de um jovem de pouco mais de 20 anos.
Normalmente nossa trajetória de vida é nascer, crescer, ficar criança, adolescente, adulto e envelhecer e por fim, morrer.  As mudanças físicas são visíveis, com rugas aparecendo no corpo, com dificuldades para fazer movimentos que antes eram naturais, como andar rápido, correr, sentar e levantar, enxergar normalmente, (às vezes já se tem dificuldade de visão desde cedo). Então em certa fase da vida, nós simplesmente esquecemos as coisas básicas, esquecemos de algumas pessoas até de nós mesmos. Não sabemos mais ir ao banheiro sozinhos, tomar banho, fazer a higiene íntima, não controlamos nosso corpo, precisamos que alguém o faça por nós, nascemos usando fraldas, e vamos no fim (em alguns casos) usá-las novamente. Esquecemos inclusive de como engolir e aí, é o fim. 
Pois aparentemente, o corpo esquece de como se faz para funcionar e os órgãos começam a “pipocar”.... L a isso chama-se envelhecer, ou como hoje se chama entrar na 3ª idade, a fase em que nos tornamos idosos. As pessoas já não têm muita paciência conosco, não conseguem nos escutar por muito tempo, porque nós simplesmente ficamos estranhos, alguns de nós chega a ficar ranzinzas, a nossa fala pausada entre um respiração profunda, puxando o ar que já parece escasso e as nossas lembranças, vez ou outras esquecemos-nos o que estávamos falando e nos tornamos repetitivos.
Geralmente nos lembramos de coisas muito antigas e as que acontecem no dia ou dias anteriores, nem se quer pensamos se vivemos. Repetimos muito certas histórias, pois não lembramos de tê-las contado. E já contamos muitas vezes.
Sentimos-nos tristes, muitas vezes nossos olhares ficam perdidos, parados numa introspecção que nem nos damos conta. Sabemos que damos trabalho, que aborrecemos às vezes os mais jovens com nossas histórias, nossos problemas de dores, nossa dificuldade de andar rápido, sentar rápido, comer rápido. Nossos passos ficam lentos e todos os movimentos também, e normalmente ficamos deprimidos; é melhor não falar para não aborrecer a quem ainda fica conosco, então falamos pouco, andamos pouco, comemos pouco; assim, não nos tornamos estorvos, as pessoas que ficam conosco não precisam se preocupar em fazer muita comida, gastar...Assim, tentamos nos anular, tornar-nos quase invisíveis e muitas vezes conseguimos. Então, algumas famílias esquecem seus velhos nos cantos da casa. Se esquecem que ele está ali. Chegam, em alguns não raros casos, de quando viajam, esquecer de  que têm um velho em casa, sozinhos, abandonados.( Não são raros os casos apresentados nas reportagens de maus tratos aos idosos que são esquecidos nas casas, sujas, sem alimentação, sem banho, sem nada. Uma forma de matá-los em vida. Como se isso fosse vida!) ...
 Mas os gastos são inevitáveis, pois também ficamos doentes mais facilmente. Artrite, artrose, pressão alta, diabetes, problemas de juntas (junta tudo e joga fora J). O tempo passa.
Em alguns casos, isso pode ficar retardado, digo, toda essa transformação, não a exterior, pois a pessoa fica velha e parece velha, sua pele fica flácida e ressecada e seus passos ficam mais lentos mesmo, seu olhar mais perdido, enfim, tudo fica igual, mas o velho às vezes ainda tem uma força para ajudar a criar os netos, ser sua companhia, andar com ele, participar mais das brincadeiras dele, pelo menos enquanto este for pequeno, pois adolescente não gosta de ficar perto de velho e falar com eles, são impacientes para isso.

Muitos velhos hoje trabalham para ajudar a sustentar a casa, quando isso acontece, chega a ser até bom, pois pelo menos este velho não chega a ser um estorvo. Infelizmente há os outros casos, em que eles são simplesmente enviados para um asilo e lá abandonados. Ninguém quer trocar fraldas de um velho... Como você acha que o velho se sente? A não ser que ele tenha perdido a consciência de si, “Mal de Alzheimer”.

Bem, voltando ao filme que vi hoje, isso tudo que falei aconteceu ao contrário. O menino nasceu velho, com aparência e problemas compatíveis com uma pessoa idosa de mais de 80 anos. Foi abandonado pelo pai, pois parecia um monstro todo cheio de rugas. Em sua cabeça, ele era criança num corpo de velho. Tinha atitudes e muitas dúvidas como qualquer criança. O tempo passava e ele ia ficando cada vez mais jovem. O corpo não era compatível com seu interior, sua mente. Isso foi até ele ir perdendo sua memória, desaprender a andar, a falar, a pensar, e ir ficando cada vez mais jovem até atingir aparentemente a idade de um bebê e simplesmente morrer.

No fim é a mesma coisa; o ser vivo tem o mesmo ciclo de vida: nascer, crescer, se desenvolver, se reproduzir e morrer.

A morte é natural, mas por que nós não conseguimos aceitá-la normalmente? Por quê?
Simplesmente por ser desconhecida. Ninguém já viu ou soube de alguém que voltou e disse como era lá. (francamente, ninguém quer saber, certo? Nem eu!)
Já são duas horas da manhã, eu vou dormir...
Boa noite!
Cícera Maria

P.S . Tem muitas coisas que gostaria de contar, falar, lembrar. Deixar aqui registrado, para quem sabe, ser lida no futuro. Mas já é tarde (ou cedo, depende do ponto de vista; quantas pessoas estão se levantando agora para trabalhar, né? J) e eu tenho que descansar.
Vou terminar com uma oração:
Pai Nosso que estás no Céu, Santificado seja o Vosso Nome,
Venha a nós o Vosso Reino, Seja feita a Vossa Vontade
Assim na Terra, Como no Céu; O Pão Nosso de cada dia, Nos dá hoje,
Perdoai-nos as nossas ofensas, Assim como nós perdoamos
A quem nos tem ofendido, E não nos deixei cair em tentação
Mas livrai-nos do Mal,
AMÉM!