domingo, 27 de outubro de 2013

Uma mãe com Alzheimer



Já falei aqui sobre essa doença que acomete as pessoas e ainda não se sabe por que ou como acontece, apenas que vai destruindo os neurônios, a parte do cérebro que controla a memória, controla todas as ações básicas. A pessoa começa cometendo pequenos deslizes de memória, esquecendo uma coisa aqui, outra ali. A princípio sem muita consequência, muitas vezes até rende umas risadas. Mas esta situação vai piorando e as pessoas vão se esquecendo, do nome de alguém que muito ama, do rosto dela, se esquece se já tomou banho, se já comeu, onde está. O triste é que a própria pessoa percebe quando isso começa a atrapalhar sua vida e fica assustada, mas triste ainda é que aqueles que a rodeiam se no início achava graça, geralmente fica chateada, sem paciência e não aceita que ela esteja assim. Como muitas vezes essa situação começa transitórias, com momentos em que parece que está tudo bem seguido de outros completamente estranhos, há algumas brigas, não por parte de quem sofre da doença, mas de quem a rodeia impaciente brigando dizendo coisas como: “Pare com isso! Você sabe muito bem o que está fazendo, só quer me aborrecer!” e muitas coisas que na verdade só reflete o medo dela em relação a tudo que está presenciando.
Aos poucos a pessoa acometida desta doença praticamente some dentro de si, é como se morresse sem morrer.

Esta carta abaixo é de uma mãe para sua filha. Ela está sendo acometida pela doença e demonstra que sabe disso e sabe o que virá pela frente, mas não pode impedir e teme o sofrimento e o medo da filha... 

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Carta de uma mãe com Alzheimer para sua filha 

Querida filha, escute com atenção o que tenho para falar. O dia que esta doença se apoderar totalmente de mim e eu não for mais a mesma, tenha paciência e me compreenda. Quando eu derrubar comida sobre minha roupa e esquecer como calçar meus sapatos, não perca sua paciência. Lembre-se das horas que passei lhe ensinado essas mesmas coisas. Se ao conversar com você repito as mesmas palavras e você já sabe o final da historia, não me interrompa e me escuta. Quando era pequena tive que contar-lhe mil vezes a mesma historia para que você dormisse. Quando fizer minhas necessidades em mim, não sinta vergonha nem fique brava, pois não posso controlar-me. Pense em quantas vezes, quando era uma menina, te limpei e te ajudei quando você também não podia controlar-se. Não se sinta triste ao me ver assim. É possível que eu já não entenda suas palavras, mas sempre entenderei seus abraços, seus carinhos e seus beijos. 


Te desejo o melhor para sua vida com todo o meu coração.

 Sua mãe. 

Cícera Maria